A Provincia

Historia

A Província da Zambézia foi formada a partir do distrito da Zambézia do período colonial.

O Nome

O topónimo Zambézia foi criado em 1858 por decreto régio, abrangendo as capitanias de Quelimane e “Rios de Sena” (o Zambeze). O que hoje chamamos província da Zambézia foi durante muito tempo o “distrito de Quelimane”, criado em 1817, extinto e incorporado no de Sena em 1829 e reposto em 1853.

Os Prazos

A colonização deste território e, aliás de todo o vale do Zambeze, iniciou-se no século XVII pelo aforamento de terrenos a portugueses ou “indo-portugueses” (indianos convertidos ao catolicismo, que adoptaram nomes portugueses) comerciantes ou soldados, a troco duma renda anual. A concessão era feita por "prazos", ou seja, por duas ou três gerações, sendo transmitida à filha mais velha. Passado esse tempo, os terrenos voltavam à posse do Estado, mas podiam voltar a ser entregues aos antigos “prazeiros”, se as autoridades achassem que a propriedade tinha sido bem administrada. Informalmente, no entanto, esta colonização tinha começado no século anterior, através de acordos de fixação entre os colonos portugueses e os chefes locais, por vezes através do casamento.
Com o tempo e a ineficácia da administração colonial, estas propriedades tornaram-se verdadeiros “estados” com os seus exércitos de “chicundas”. Não só estes senhores feudais não pagavam renda ao Estado português, como organizaram um sistema de cobrar o “mussoco” (um imposto individual em espécie, devido por todos os homens válidos, maiores de 16 anos) aos camponeses que cultivavam nas suas terras. Além disso, mineravam ouro e comerciavam marfim e escravos em troca de panos e missangas que recebiam da Índia e de Lisboa. Até 1850, Cuba foi o principal destino dos escravos provenientes da Zambézia.
Em 1870, era apenas em Quelimane (sem conseguir penetrar no “Estado da Maganja da Costa”) onde Portugal exercia alguma autoridade, cobrando o “mussoco”, instituído e cobrado pelos prazeiros. Isto, apesar de, em 1854, o governo português ter “extinguido” os Prazos (pela segunda vez, a primeira tinha sido em 1832). Outros decretos do mesmo ano extinguiam a escravatura (oficialmente, uma vez que os “libertos” eram levados à força para as ilhas francesas do Oceano Índico (Maurícia]] ou “ilha Bourbon” e Reunião ou “ilha de Fança”, com o estatuto de “contratados”) e o imposto individual, substituindo-o pelo imposto de palhota, uma espécie de contribuição predial.
Na margem direita do Zambeze e na margem esquerda da actual província de Tete, os prazos começaram a ser atacados, em 1830, pelos nguni que fugiam durante o mfecane mas, aparentemente, os prazos da Zambézia escaparam a essa sorte. Mas, apesar de “ressuscitados” por António Enes, o grande ideólogo do colonialismo pós-escravatura, não resistiram ao capital pós-esclavagista das grandes companhias. Depois de serem engolidos por estas, viram a administração colonial organizar-se finalmente – já na segunda metade do século XIX – e utilizar a sua estrutura feudal, depois de transformados os “xicundas” em sipaios, para submeterem os povos da região.