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Chá na Zambézia: Produtores pedem isenção na importação de clones

Data: 20/06/2017
Chá na Zambézia: Produtores pedem isenção na importação de clones

OS PRODUTORES de chá, na província da Zambézia, pedem ao Governo a isenção do pagamento de direitos aduaneiros na importação de clones de altos rendimentos e tecnologias para dinamizar a produção desta cultura estratégica para a exportação e forte impacto socioeconómico.

O Presidente do Grémio do Chá na Zambézia, Valdemiro Varinde, disse há dias que os produtores têm vindo a interceder, sem sucesso, junto do governo sobre o assunto, situação que desmotiva as empresas que operam no subsector do chá.

O nosso entrevistado afirmou que, muitas vezes, as empresas pedem que haja flexibilidade no tratamento do expediente atinente à importação e não propriamente uma isenção total dos direitos alfandegários.

Valdemiro Varinde disse que quando os produtores solicitam a autorização de importar os clones mais produtivos ou isenção, o expediente fica uma eternidade, como tem vindo a acontecer há vários anos, o que deita abaixo todas as perspectivas para a dinamização da produção do chá no país.

Disse ainda que as actuais plantas têm mais de 100 anos e quase que não produzem o suficiente para garantir a sobrevivência das empresas. Por exemplo, Varinde referiu que num hectare de chá só se podem colher 800 quilogramas e, nos países vizinhos, como Malawi e Tanzânia, na mesma área colhem entre 3500 e 5 000 quilogramas.

“As empresas não querem apenas a isenção mas também a facilitação da autorização para importar esses clones e os equipamentos mas não temos resposta”, disse o entrevistado para quem a acultura do chá contribui com mais de seis milhões de dólares para o sistema económico e financeiro do país.

Referiu que, só no distrito de Gurué, o sector emprega cinco mil trabalhadores e 39 mil famílias que, sazonalmente, prestam trabalhos em cada época agrícola.

A cultura do chá tem implicações socioeconómicas. A revitalização, segundo Valdemiro Varinde, deve ser vista como uma questão urgente para devolver a dignidade a milhares de famílias que, num passado muito recente, garantiam a sua vida através desta cultura.

O chá é, actualmente, produzido nos distritos de Gurué e Ile. Em Milange e Lugela as áreas foram invadidas pela população para produzir milho e outras culturas.

Dados em nosso poder indicam que só no distrito de Gurué existe uma área de 6 916 hectares, dos quais estão em exploração 5049 hectares. As empresas também queixam-se da invasão das áreas e queimadas descontroladas como estando a reduzir os níveis de produção do chá verde.

Entretanto, o Administrador Distrital de Gurué, Costa Chirembue, confirmou à nossa Reportagem que o subsector de chá tem um impacto socioeconómico bastante forte, não só para a colecta de receitas para o Estado, como também para as famílias. Explicou que no pico das colheitas são muitas as famílias que conseguem ter emprego temporário e com os rendimentos resolvem muitas dificuldades.

Costa Chirembue reconheceu ainda que o chá de Gurué é natural, com bom sabor. Entende que o investimento na renovação da plantação e importação de tecnologias devem ser encarados como uma prioridade, por isso, o executivo tem vindo a dialogar com os produtores para salvar a produção do chá devido à sua importância económica e estratégia para reanimar Gurué.

Baixa produção do Chá  

A seca prolongada registada no início deste ano comprometeu a produção do chá, no distrito de Gurué, norte da província da Zambézia, em mais de 210 mil toneladas.

Dados avançados pelo Presidente do Grémio de Chá, Valdemiro Varinde, indicam que a produção baixou para 1.790.137 toneladas contra as mais de 2.050 mil da campanha passada.

Daquele volume, 1.069.687 toneladas foram exportadas para países como Quénia, China, Rússia, Alemanha, Emirados Árabes Unidos e Reino Unido. O quilograma de chá, no mercado externo, está a ser comercializado a 1,5 dólares norte-americanos.

O cenário deste ano é descrito como sendo crítico e afecta, sobremaneira, a tesouraria das empresas que têm obrigações com os trabalhadores, impostos e lucros para continuarem a operar.

Os desafios dos produtores passam pela melhoria da qualidade da folha verde, da produção e importação de equipamentos modernos.

Das 12 unidades de produção que existiam, no Gurué, actualmente operam quatro com enormes dificuldades. Algumas empresas, porém, estão tentar encontrar soluções para minimizar a crise. Há companhias que estão a introduzir o chá ortodoxo, bastante procurado na China, mas os custos de produção são bastante altos, muito embora os rendimentos sejam considerados extremamente bons.

No chá normal, uns trabalhadores podem colher 35 quilogramas por dia mas no chá ortodoxo apenas são três quilogramas. Colhem-se as duas últimas mais verdes e tenras. O processo do cultivo é bastante trabalhoso.

Estratégia de recuperação  

O Governo da Zambézia precisa de mobilizar mais de 1.5 bilião de meticais para operacionalizar a estratégia de desenvolvimento do chá no período 2016-2025.

Um estudo apresentado há dias, em Quelimane, indica que a estratégia focaliza cinco objectivos, nomeadamente, promover o desenvolvimento institucional, recursos humanos e criar capacidade técnica e científica nacional, desenvolver investigação aplicada e experimentação de clones adaptados às condições agro-ecológicas da região norte da Zambézia, massificar a produção de mudas (clones) e substituir gradualmente as plantações antigas e estabelecimento de novas plantações com clones mais produtivos e de qualidade, mobilizar financiamento, acesso ao mercado interno e externo, aumentar a competitividade e criar ambiente socioeconómico favorável para atracção de investimentos e garantir a protecção de meio ambiente e mitigação das mudanças climáticas.

A cultura do chá foi introduzida, pela primeira vez, em Moçambique, nos distritos de Milange e Lugela. No período 1960/1973, o chá ocupava uma área total de 15.749 hectares e a produção rondava nas 18.797 toneladas.

Antes da guerra civil, a área tinha crescido para 39 mil hectares nos distritos de Gurué, Ile, Milange e Lugela. O número de empresas reduziu drasticamente devido à crise do subsector e, actualmente, a província da Zambézia conta com quatro empresas, nomeadamente Chazeiras de Moçambique, Sociedade de Desenvolvimento da Zambézia, Chá de Magoma e Chá Socone (Walace) que ocupam uma área de 5444 hectares.

Em 1980, o sector empregava 32 mil pessoas e as exportações anuais rendiam entre 20 e 26 milhões de dólares norte-americanos contra os actuais seis milhões.

Dois técnicos do sector da Agricultura e Segurança Alimentar da Zambézia estão, desde o início deste mês, na Índia para aprofundarem os conhecimentos sobre a cadeia de produção do chá

A Índia é um dos países onde a produção de chá atinge três a sete toneladas por hectare. Aquele país produz chá preto e tem investido muitos recursos na investigação e tecnologia para elevar a qualidade da sua produção. O chá do Gurué, apesar dos problemas que enfrenta, é natural e de bom sabor.

Fonte: RM